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Cap. 12 - Trocando uma idéia...


— Ana, vem cá. Quando você sabe que uma mulher tá dando em cima de você?

— Que conversa é essa?

— Ai Ana, não entendo de paquera lésbica.

— Me conta logo quem tá dando em cima de você?

— A cidade inteira.

— Convencida.

— Porque posso ser.

— Sério Ysa? Quem?

— Me responde primeiro.

— Tá , quando uma mulher tá afim é igual na balada, mulher é direta, chega chegando, você sempre sabe.

— Não, Ana. Não to falando das cantadas que recebo de mulher na balada. Eu sei quando querem transar, isso é óbvio. Quero saber como a gente sabe que rola algo especial, quando uma mulher se apaixona por outra, como é?

— Iiiiiiii, quando a gente pergunta é porque já tá apaixonada. Mas, respondendo sua pergunta, é bem normal.

— Normal como, Ana?

— Normal, ué, como um homem quando se apaixona por uma mulher, não existe diferença Ysa, é a mesma coisa.

— Como pode ser, Ana?

— Você quer saber como é o sexo?

— Não Ana, isso eu já sei, tem pornô na sua TV, e eu já vi todos.

— Eu não precisava saber dessa informação.

— É, desculpe, agora sabe. Eu queria saber se rola paquera, como a gente sabe que a outra pessoa tá interessada em algo a mais do que só transar com você...

— O que tá rolando Ysa?

— Eu tenho quase certeza que uma amiga minha tá afim de mim.

— Nossa, jura? E você?

— Eu não to me reconhecendo, Ana. Eu não sei nem descrever o que sinto.

— Como assim Ysa?

— Sabe Gleycis?

— Sei. Você só fala nela ultimamente, não acha que não notei?

— Notou o que, Ana?

— Você sorri quando fala nela, seu olhar é sereno, sua voz calminha.

— O que você tá querendo dizer, Ana, fala logo!

— Que tá rolando um clima!

— Não sei, Ana. Pela primeira vez eu não sei, mas me dando o conselho que eu dou pra todo mundo quando me responde isso, a verdade é que, quando se tá em dúvida é porque você já tem a resposta. O estar em dúvida é o mesmo que “quem cala consente” pra mim. Eu sei que gosto dela demais. Sinto saudade quando não estou perto dela, na verdade é minha melhor amiga depois de você, mas eu nunca me envolvi com uma mulher antes, nunca nem dei selinho em uma mulher. Ana, você sabe como isso é surreal? Mas olhando por uma outra perspectiva, a minha dúvida nem é pelo fato de ser uma mulher, porque gostar é gostar e eu gosto da pessoa dela e não da sexualidade, ou seja lá qual for o rótulo da vez, você entende?

— Claro que entendi, eu sou bi.

— Ana, eu sou amiga dela.

— Mas ela não te vê só como uma amiga. Você já percebeu, né?

— Oxe, Ana, como assim?

— Não se faça de besta, que pra você ter essa conversa é porque você já percebeu que tá rolando algo a mais.

— Você notou, Aninha?

— Claro! O jeito que ela olha pra você não dá pra disfarçar, Ysa.

— Juro que achei que era coisa da minha cabeça. Mas aí ontem ... eu tô atrasada... deixa pra lá, depois a gente conversa ...

— Nada disso, eu faço questão de te deixar na empresa hoje só pra ir ouvindo essa história!

— Que isso Ana, você tem muita coisa pra fazer hoje.

— Nada mais importante que você, Ysa Flor.

— Ave Maria, assim me sinto importante.

— Mas você é! E esse ave-maria?! Se você e Marquinhos se conhecessem melhor ia achar que você roubou dele. Ele fala isso o tempo todo, mais o dele é 3x.

— Kkkkkk, que hilário! Só podia ser seu filho.

— Tá me chamando de palhaça?

— Não, mas agora você que tá chamando ele de palhaço, kkkk’. Quando vou poder conhecer seu filho direito? Eu lembro vagamente dele... Mentira!!! vagamente nada. Aquela voz...... E tem uma música que tem um refrão que é a minha cara e nunca vai sair do meu pensamento. Se ele soubesse quantas viagens já fiz ouvindo ELA SÓ QUER PAZ ele não parava de cantar nunca mais . Cá entre nós, ele é feinho, Ana, mas que voz delicia!!! Olha aqui como até hoje arrepio, uiiiii., Kkkkkkkk.

— Respeita meu filho, dona Ysa, ele é um menino puro.

— Sei a pureza dele. Você acha que eu não notava o jeitinho que ele me olhava? Parecia que ia arrancar minha roupa.

— Deixa de inventar história, Ysa, Marquinhos não é assim, ele é tímido.

— Tímido? Só se for na sua frente. Se eu deixasse ele me pegava, Ana, eu que tive juízo, se não tirava a virgindade dele.

— E você sabe se ele era virgem naquela época?

— Sei sim, você acha que não dei uma analisada? Ia ser uma delicia, ser a primeirinha da cama dele. Mas infelizmente eu pensei e achei que ele devia curtir esse momentinho com alguém menos experiente. Ele merecia uma virgenzinha apaixonada também. Eu e essa mania menina de pensar no que vai ser melhor para os outros. Mas, enfim, te juro que só por isso não peguei ele, porque no dia que ele bateu na porta do escritório, foi difícil me controlar, viu Aninha. Se eu pego ele aquele dia com a sede que eu tava, ele ia tá apaixonado até hoje.

— Ysa, você é uma tarada. Quero saber porque você ia querer se você acha ele feio..

— Acho mesmo, Ana. Mas tem algo nele que me enfeitiçou, juro, rolou uma atração chocante, e olhe que nunca nem beijei um homem feio, imagina transar, mas aquele dia te juro que jogava ele naquela mesa de escritório mas minha ética não me deixou. Não podia me aproveitar dele, tadinho, mas seu filho né tão inocente assim não, viu? Ele me dava cada passada de olho, aposto que já bateu muitas pensando em mim.

— Ysa você tá escrotíssima hoje.

— Ai Ana, falar dele me deu calor. Aqueles olhos, Ana ele disse tanta coisa com um olhar.

— Rapaz, você era apaixonada por ele?

— Não chegou a tanto Ana, mas rolava uma química...

— To com saudade do meu filhão. A gente almoçava junto quase todos os dias , naquele restaurante que eu só entro com ele. Ele odeia os restaurantes caros que eu frequento.

— Por que, Ana?

— Porque ele diz que é comida fresca, cheia de mi-mi-mi e cara.

— Mas não é você que paga, Ana?

— Não, Ysa. Ele nunca me deixa pagar nada pra ele. Quando ele me leva pra almoçar, ainda quer pagar a conta.

— Pelo menos ele é homem de verdade.

— Já comeu lá?

— Eu não, a comida é boa?

— Simples, mas boazinha, nada perto do que você faz. Ysa, quem experimenta a sua comida nunca mais se habitua a nenhuma outra, por isso quero Marquinhos bem longe do seu tempero, enfeitiçadora de estômagos, kkkkk.

— Nossa, você tá me elogiando muito hoje, deve ter feito alguma merda.

— Me respeita, guria.

— Ana, se eu chegar na empresa e encontrar algum furo, eu vou saber porque você tá me elogiando tanto assim de manhã cedo. Toda vez tenho que consertar seus babados. Eu saio de rainha Má e você de rainha boa. Resolver você não quer, mas quer que eu resolva.

— Você é terrível, Ysa. Vai, me conta, tô ansiosa para saber o que rolou.

— Nada de sair correndo, temos 20 minutos, não dá pra conversar nada, mas da pra tomar um café. Eu fiz sua panqueca sem glúten e um café bem forte pra você acordar. Ana, que cara de sono é essa, misericórdia, não sei como uma pessoa dorme e acorda destruída assim.

— Ysa, eu já tô nos 40, você acha que todo mundo tem essa sua energia desde de manhã cedo?

— Ai, Ana, idade não tem nada a ver. Com 80 eu vou ter 30, você vai ver.

— Então me ensine a magia, porque eu preciso.

— Simples, bom humor muda tudo.

— Mas eu não consigo acordar com esse sorriso na cara.

— Olha pra mim que você consegue.

— É exibida, nunca vi! Tá pra nascer uma leonina tão Leonina como você... Meu deus, o que você coloca nessa panqueca? Não tem trigo mas tá uma delicia, você sempre acerta.

— Ana, você precisa aprender a fazer sua comida. Você acha que quando eu arrumar um boy e casar vou ter tempo de ficar vindo fazer panqueca pra você? Vigia, aprende enquanto tô aqui todo dia. Até lá eu faço questão de fazer pra você.

— Assim você me deixa mal acostumada.

— Você já tá mal acostumada, aí não tem mais jeito. Só quero saber porque você não deixa as meninas da copa fazer sua comida.

— Porque não gosto de nada que elas fazem. Ysa, depois de provar a sua comida as outras perderam a graça.

— Agora que eu vi. Não fica viciada em minha comida não, ou você vai ter que me visitar todo dia . Kkkk. Vamos?

— Espera, quero mais.

— Ana, deixa de gula . Você não precisa de mais, você já comeu e já “encheu”.

— Não enchi nada.

— Ana, você tem cérebro de gente gorda. Que horror! Você é uma Lady, você não repete as refeições. Vou contar a seus fãs que a Ana que eles veem na tv é uma ilusão. Ana, mentaliza que você enche a barriga, bebe uma aguinha com limão. Pronto!

— Affff Ysa, água com limão não tira a fome. Uma mesa dessa e a pessoa não pode nem comer direito!!

— Ana, você não quer comer, você quer pecar cometendo o pecado da gula. Falando em gula, você já assistiu os 7 pecados capitais?”

— Eu não, é bom?

— Perfeito. Vi ontem à noite com Gleycis no cinema.

— E aí, conta logo, o que rolou?

— Nada Ana, você acha que sou fácil assim? 1ª saída e já vai rolar algo?

— Mas você quis?

— Ana sabia que você vai ficar chocada com minha resposta?

— Mentira!

— Ana, eu não sei.

— Como? Repete !

— Isso mesmo. Ela deu a iniciativa, mas eu não tive reação. Foi a primeira vez em minha vida que eu não soube o que fazer. Ana, rolou uns olhares em meio ao filme, aquele lance de dividir o balde de pipoca... Pera, vou pegar minha água detox, pronto, bora.

— Eu dirijo, dona Ysa, porque quero você me contando cada detalhe, e do jeito que você é intensa, tenho certeza que vai fazer várias interpretações e não tô afim de morrer hoje.

— Porque não, Aninha? Hoje tá um dia lindo para morrer, olhe que sol. Pelo menos não vai ter ninguém aproveitando a chuva pra dizer que é lágrima.

— Ysa, você tá terrível hoje.

— Ainda bem que é só hoje, né Aninha? Hahaha, você sabe que se você morrer eu tenho que morrer junto para cuidar de você.

— Ave-maria, você pode parar com esse papo de morte?

— Você começou Aninha, agora aguenta. Isso é pra você nunca mais repetir. Mas fique sabendo que se você morrer, eu vou junto.

— Deus me livre, meu filho não merece isso, já basta a outra mãe dele.

— O que aconteceu com ela, Ana?

— Ela faleceu por causa de uma intoxicação alimentar que se agravou e culminou em um AVC. A mãe dele me falou tantas coisas sem sentido quando ela me deu o Markus pra batizar. Ela olhou no meu olho e disse : “cuida dele pra mim ANA, você é a mãe que ele vai conhecer. Ela chorou, e eu chorei de medo, achei que ela queria se matar, fiquei a semana toda vigiando ela e depois, quando perguntei, ela disse que não podia falar, que tava tendo sonhos e pressentimentos e mesmo se me falasse eu não ia acreditar nem entender porque era sobre coisas muito futuristas, fora do nosso tempo. Ela tinha umas coisas assim, sabe, uns relances, umas visões fora da realidade, mas ela era muito querida pra mim. Era uma pessoa de coração bom que só fazia o bem pelas pessoas, por isso meu filho é tão bom. Marquinhos teve uma mãe exemplar, corajosa. Você sabia que ela fazia peça teatral, era compositora, escritora , poetisa e fazia um feijão pra ninguém botar defeito? Fazia uns chás combinados com limão que eram uma delicia. A gente sempre se deu muito bem. Eu estava pensando em compor uma música com ela, mas não deu tempo. Espero que Marquinhos realmente dê certo na música. Era o sonho da mãe dele ver ele bem resolvido, feliz e seguindo o sonho dele . Que mãe não quer ver o filho feliz ? Eu rezo todo dia por ela, por ele e por você.

— Você segurou uma barra, você é uma mãezona Aninha, me sinto tão sua filha que às vezes sinto como se tivesse me gerado . É estranho, e ao mesmo tempo mágica nossa ligação, né?

— Sim, de fato parece que você saiu de mim.

— E com Marquinhos, você sente essa mesma sensação, Ana?

— Sinto, por incrível que pareça, igual a você, sem diferença.

- Nossa, Ana, que loucura. Mas ele, pelo menos, conviveu com você desde criança, você praticamente criou, e a gente ? Eu e você só nos conhecemos a pouco tempo. Como explica isso, hein?

— Sei não. Só sei que você foi uma pérola rara que encontrei em um dia de sorte, acaso ou destino? Vai saber. Não importa como, o que importa é que, aconteça o que acontecer, sempre teremos essa conexão.

— Ai Ana deve, ter sido difícil pra ele, né?

— Sim, foi muito difícil. Mas ele sempre foi uma criança muito consciente, nunca deu trabalho a vó,e nem a mim. Mesmo morando onde mora e sem querer sair de lá ele nunca se envolveu com drogas, nunca! Você acredita que nunca vi ele bêbado?

—Sério?

— Sim.

— Igual você. Percebi que você não curte bebida, né ?

— Não mesmo, Ana. Acho uma babaquice, me sinto um alien quando saio com meus amigos e tá todo mundo alcoolizado, rindo por besteira, se a chave cair eles riem ... Lembra Nayara, aquela minha amiga da aula de Múscia que te falei? Ela bebe e chora o tempo todo Ana, preciso te apresentar, ela é uma figura, gente boa mesmo, mas louquinha, louquinha! Sabe, acho que bebida é um jeito que as pessoas procuram para fugir da realidade É uma droga silenciosa, eu já vi tantas pessoas que eu admirava se perder nesse caminho sem volta, que desenvolvi pavor a álcool. É tudo tipo os alucinógenos, sabe. Acho que não vale a pena buscar a realidade em outro lugar que não seja no agora.

— Ave Maria, Ysa, até eu paro de beber você falando bonito assim. Você me enche de orgulho, sabia? Tão novinha e tão madura. Eu fico imaginando de onde vem tanta bagagem porque olho pra você e me parece que você nasceu ontem.

— Ai, Aninha, como você é gentil.

— E você linda e pura de coração. Um dia ainda quero ter essa inocência sua.

— Inocente eu? São seus olhos. Não entendo. Você um dia me chama de safada, outro de inocente. Mas, Ana, uma coisa não tem nada a ver com outra.

— Você é safada, mas também tem inocência.

—Não dá pra unir o puro ao poluído. Decide se sou anjo ou demônio. Por que as pessoas não conseguem aceitar que somos os dois? E somente elas têm a chave para decidir o que vai desenvolver e se tornar!

—Ai Ysa, você confunde minha cabeça.

—Como assim?

— Estávamos falando de você, depois de Marquinhos, e a mãe entrou na história, e agora estamos filosofando. Espera aí, vamos concluir o assunto de sua professora Gleycis. Tô curiosa, já estamos chegando ao destino e nada de você me contar.

—Ai Aninha, me empolgo conversando com você, nem parece que moramos juntas. 24 hs ainda não tá sendo suficiente para colocarmos o papo em dia.

— Kkkkk, eu concordo.

— Mas Ana, me responde, a mãe do seu afilhado faleceu do que? Fiquei curiosa.

— Ela comeu um queijo estragado, sem saber, e o exame mostrou que a ‘lipoproteína A’ dela estava muito elevada. Ela sofreu uma intoxicação alimentar uma semana antes, e a bactéria não foi devidamente tratada. Ela se sentiu mal, mas por ter posto pra fora achou que não era nada grave, mas 1 semana depois ela teve um AVC.

— Mas o que isso tem a ver com a bactéria?

— Tudo, porque justamente foi essa bactéria que provocou a crise e impediu ela de ser recuperar. O hospital também não prestou atendimento adequado. Se o hospital e a equipe médica fosse mais preparada e atendesse ela assim que chegou, talvez ela teria se salvado. Eu só recebi a ligação 8 hs depois . Não dava pra fazer mais muita coisa. Transferimos ela de hospital mas não adiantou, o caso se agravou. Se a família dela tivesse me avisado ha tempo eu teria mandado ela pro Rio onde conheço a equipe médica que trata minha mãe. Os médicos de plantão do dia daquele muquifo que chamam de hospital não estavam nem aí, dava desespero de ver o descaso do médico sentado, lendo jornal, e minha amiga tendo uma convulsão na maca. A mãe dela ficou arrasada, eu achei que ela ia morrer junto, juro por Deus ! Foi desesperador, me senti impotente ter que depender do governo. Estava sentada em uma emergência de mãos atadas. Eu só pensava em pegar ela e sair correndo dali, mas não podia. Graças a Deus a mãe dela foi forte, sobreviveu, criou o Markus. Eu pedi pra criar ele mas ela não deixou eu traze-lo, falou que ele era a única herança que a filha havia deixado, mas eu acompanhei ele desde sempre. A família nunca aceitou muito bem minha ajuda financeira, mas eu ajudava como podia. Marquinhos passava as datas comemorativas comigo e o restante do ano com ela e o pai, que viajava mais que ficava em casa, trabalhava em obra e serviços gerais, era uma boa pessoa, muito trabalhador, mas a bebida acabou levando ele pra outro caminho, e depois disso ele sumiu. A mãe dele era uma boa amiga para mim. Ela adorava café forte. Toda vez que vinha aqui, pedia pra ela mesma passar o café e me chamava de mineira. Ela falava que mineiro não sabe fazer café. Falava que a gente não tomava café, tomava água suja de pó de café. Ela achava meu café fraco, aí ela mesmo fazia, mas o dela era tão forte que eu não conseguia tomar. Ela era muito noturna. Passávamos horas conversando, e ela escrevendo ao mesmo tempo, não sei como conseguia se concentrar. Era uma mulher muito viva , inteligente... Ai, deixa eu parar porque me emociono quando falo dela .

— To vendo, você já tá chorando, toma aqui um lenço de papel.

— Obrigada, Ysa.

— Né pra brigar não, Aninha.

— Você sempre fazendo piada. E que lencinho cheiroso... que perfume é esse?

— Né perfume não, querida, é meu cheiro de flor, já nasci assim.

— Kkkkkk, só você mesmo, viu Ysa, pra arrancar uma risada em um momento como esse.

— Ana, pense pelo lado bom. A gente não tem que acreditar na morte como as pessoas dizem porque na verdade a morte nada mais é que um ciclo, uma passagem para outra vida diferente dessa . Mas a morte não existe, ou não faria sentido termos alma. Pense bem! A gente vem à terra viver uma experiência humana, mas não somos humanos, entende? Isso eu aprendi aos 10 anos em um livro que li sonhando, mas era um sonho real.

— Nossa, Ysa, depois que tive aquela experiência, eu não duvido de mais nada. Antes, não acreditaria no que você está me contando. Essas histórias que você me conta de sonhos lúcidos parecem muito surreais para nossa realidade.

— É verdade, Ana, mas não posso mentir. A maioria das coisas que sei hoje aprendi em projeções.

— Entendo você Ysa, agora sei exatamente do que você fala. Se eu não tivesse vivido e sentido ia dizer que você fuma uma erva. . Imagina você bebendo e fumando uma erva? Misericórdia, já é derivada naturalmente, se tu beber acontece o que?

— Eu bebo de vez em quando, Ana.

— Mentira, Ysa! Já reparei o que você faz no círculo social. Você enche o copo dos outros e só bica o seu. A noite acaba, mas tua bebida não acaba, teu copo nunca seca, por que?

— Kkkk, você é observadora hein, nega?

— Nem tanto, mas conviver com você me ensinou a ser, às vezes eu consigo.

— Verdade, Ana, não gosto mesmo. Acho que se eu beber entro em combustão, com certeza sou daquelas que ri alto, sobe na mesa e tira a roupa, então não quero pagar pra ver. Nunca fiquei bêbada na vida e nem pretendo ficar, e se um dia ficar que seja com a pessoa certa . Deus me ajude kkkkkk.

— To imaginando você bêbada agora, ia dar um trabalho! Graças a Deus você e Marquinhos tem juízo. Ysa, não me enrole, conte logo sobre as aulas de música e sua professora.

— Kkkkk, ela é incrível, Ana. Ela é meiga, simples até demais, às vezes eu falo que ela é sobrenatural de tanta bondade, entrega e amor que ela oferece as pessoas, e você sabe que são qualidades que me cativam muito, né?

— Sei.

— Então deixamos de ser aluna e professora faz tempo. Na verdade nem sei se chegamos um dia a ser porque ficamos amigas muito rápido, e na verdade depois de você ela se tornou minha melhor amiga . Me faz tão bem tá com ela , a gente rí tanto.

— Mas quem não rí com você, Ysa, é impossível não se divertir em sua companhia.

— Mãe coruja, amiga coruja, você é coruja demais, Aninha.

— To falando sério sim, mas conte, em que pé essa amizade tá.

— No pé da amizade, ainda , Ana. Mas eu to sentindo que algo mudou da parte dela, sabe. Ela tá me olhando diferente , as vezes me dá cada encarnada e eu penso se é coisa da minha cabeça, mas a gente sabe quando um olhar tem algo a mais. E pra completar ela me disse que eu to precisando de aula extra para treinar mais a respiração. Antes ela não ficava nem perto de mim para me ensinar, agora ela vem por trás, pede pra eu relaxar os braços, respirar fundo e me abraça por trás colocando as mãos em meu diafragma. Ana, já é a terceira vez que me arrepio por inteiro. E eu, pra testar ela, perguntei se as aulas poderiam ser na escola. Ela disse que tá sem horário e que só poderia à noite na minha casa ou na dela. Resumindo a história, tô achando o convite impróprio. Tô achando o olhar diferente, o toque diferente, sabe, eu não nasci ontem, sou muito viva e entendo de linguagem corporal e a dela comigo mudou completamente.

— E você reage como a tudo isso?

— Eu não reajo, finjo que não tô vendo e a amizade continua, ora. Até porque se ela quisesse falar algo, falaria.

— Então você percebeu que ela tá apaixonada por você e não fez nada?

— Eu não disse apaixonada, Ana, não aumenta as coisas.

— É o que então?

— Interessada em algo a mais.

— Só sexo ou tem sentimento?

— Ana, impossível ser só interesse sexual porque a gente já se gosta de uma outra forma e já temos ligação por conta da amizade, envolve carinho, respeito tanta coisa em jogo, sabe.

— E o que você sente a respeito?

— Ana, eu nunca disse isso a ninguém, mas vou dizer a você. Pela primeira vê na vida eu me senti confusa. Estar perto dela é um misto de emoções. Antes eu não sentia absolutamente nada, mas agora eu sei que tem algo a mais, sabe? Ela encosta e meu corpo já responde, o que antes não acontecia.

— Responde como?

— Ai Ana, to falando de atração.

— Então toma a iniciativa e beija logo.

— Você tá louca, não tá? Ana, você perdeu a noção. Eu Ysa Flor, agarrando alguém? Nem combina baby, eu só sou agarrada, não dou esse gostinho a ninguém.

— Kkkkk, Ysa, você é terrível. Então você tá sentindo atração por uma mulher.

— Isso não me faz lésbica né, Ana?

— Faz sim, ué.

— Para Ana, nunca me envolvi sentimentalmente nem fisicamente com mulher nenhuma na vida, por que agora? Lésbica depois dos 20? Se eu fosse saberia, você não acha?

— Já ouviu falar no terno bi sexual? Eu sou bi, você pode ser também.

— Não, Ana, se eu fosse bi também saberia.

— Ysa pelo amor de Deus, não dá nó na minha cabeça. Você acabou de me contar que sentiu atração sexual por uma mulher e não é lésbica e nem bi. O que você é então?

— Hétero.

— Hétero safada, só se for.

— Não, Ana, não é safadeza. Você sabe que não faço por fazer, tipo transar por distração nem só por atração.

— Sei, mas tá confuso ainda pra mim.

— Aninha, entenda uma coisa; não é porque senti atração por ela que sou bi ou lésbica. Eu me sinto hétero, sempre gostei de homem. Acontece e aconteceu.

— Ysa, não tá rolando entendimento nessa sua filosofia. Pode ser um momento, uma fase, é isso que quer dizer?

— Não, Ana. Quero dizer que me sinto igual, exatamente nada mudou em minha sexualidade. Por exemplo: eu sinto que eu só consigo sentir atração sexual por quem eu me sinto conectada emocionalmente, você entende isso?

— Não, porque eu sinto atração por qualquer pessoa, basta ser gostoso, gostosa ou bom de cama.

— Ana, você é safada. Eu sou complexa mesmo, quase ninguém entende. Mas é real, eu não consigo transar por transar.

— E você nunca transou por transar, então?

— Mentira!

— Verdade!

— Kkkkkk, Ysa, quem te vê nem desconfia.

— Por que? Tenho cara de pegadora?

— Tem, e daquela que bate ainda.

— Kkkkkk, só você viu Ana.

— Mas você é um amorzinho.

— É Ana, por isso to solteira. Eu não consigo ir pra cama sem amar. Pra mim não faz sentido algum se entregar a uma pessoa sem gostar. Fico imaginando depois da transa como deve ser frio, tenso para ambos, sei lá, nem saberia reagir em uma situação dessas, Deus me livre.

— Ysa, você não é desse planeta. Chegamos e quero detalhes sórdidos.

— Não tem Aninha, infelizmente. Quando tiver eu conto. Da aqui beijo que tô em cima do horário.

— Ysa, a empresa é minha, não precisa ser tão pontual.

— A empresa é sua e se você não levar a sério minguem levará . Ou seja, preciso ser exemplo para outros funcionários porque não sou melhor que eles. Se eles chegam no horário eu também preciso, e você precisa me cobrar de forma igual. Não me sinto bem sendo privilegiada nos horários. Se quer me da 10 minutos, dê a todos.

— Ok, empresária. Eu acho que a dona dessa empresa deveria ser você.

— É Ana, sabe que também acho. Olha como sua empresa combina comigo.

— Irônica.

— Sua boba.

— Te amo.

— Eu amo mais.

— A gente é um nojo, sabia?

— Sabia, por isso te amo.

— Tchau.

— Dirige com cuidado.


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Será que vai rolar alguma coisa entre Ysa e Gleycis?

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Serendipity 11:11

O Portal do Amor

Ysa Flor

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