Cheguei na escola de música e lá estava ela, linda como sempre. Era uma energia tão boa que sempre me atraia para mais perto. Gleycis foi, de longe, a professora mais paciente e doce que eu tive. Ela realmente se preocupava com meu desempenho e fazia de tudo para que meu aproveitamento na escola fosse total. Anotava as aulas e me mandava por e-mail. Quando eu faltava, ligava para saber como eu estava, ou se tinha dúvida. Até livro pra mim ela já comprou pra ajudar em meu desempenho. A amizade aconteceu naturalmente. Foi inevitável. Nos conhecemos melhor e nos tornamos melhores amigas. Tínhamos aulas 4× na semana, o que nos proporcionava muito tempo juntas. Mas como Gleycis percebeu que tava puxado pra mim, afinal era faculdade 2x na semana, viagens com Ana, trabalho no escritório - Eu ainda prestava serviço terceirizado como agente as vezes – Ela sugeriu me dar aula particular em casa, mas ao longo do tempo ficamos muito intimas. 1 ano depois do inicio da nossa amizade notei que algo não estava normal. O jeito dela me olhar estava diferente. A projeção do corpo dela havia mudado completamente, e os toques físicos ficaram mais frequentes. Ela pegava várias vezes em minha mão, alisava meus cabelos e aos poucos não conseguíamos mais ficar sem nos falar. As ligações ficaram frequentes, e foi quando tudo começou: eu me vi perdidamente apaixonada pela minha melhor amiga, e eu sabia que era recíproco. Não sei quando ou como aconteceu, na verdade não houve um momento exato. A admiração que eu tinha pela seriedade dela, pelo respeito que ela tratava as pessoas, pela empatia, sei lá... eu tinha me apaixonado por uma mulher e nesse momento não sabia o que fazer da vida. Foi como se tudo que eu conhecesse sobre mim tivesse se tornado um mistério. Eu tinha necessidade de ficar perto dela, de falar com ela, e quando ela não estava por perto, eu sentia que faltava algo. Era uma necessidade louca e incontrolável. Eu me joguei de cabeça e me entreguei com toda sinceridade a ela.
— Ana, cada dia que passa tá mais difícil resistir a Gleycis.
— Então não resista, por que você tem que ser assim? O que aconteceu com a Ysa poderosa, cheia de atitude?
— Com ela é diferente, Ana, ela me tira do chão.
— Por que você tem que ser tão certinha?
— Porque eu sou assim? Nem eu sei, Ana, mas só me sinto confortável assim, sendo eu mesma.
— Mas você tá ou não afim?
— Ai, Ana, comigo não existe esse lance de tá a fim, ir lá, pegar por pegar e no outro dia fingir que nada aconteceu. Você sabe. Não sou de ficar. Sou melosa demais, confesso que queria ser mais desapegada, mas eu não consigo. Ou eu amo, ou eu odeio. Eu preciso parar com essas extremidades, mas essa sou eu. Não consigo gostar e não demonstrar, não consigo gostar e não cuidar, não consigo gostar e ser fria. Ana, o que vocês usam no lugar do coração para ficar com alguém, e no outro dia fingir que nada aconteceu?
— Ysa, você é muito pura pra esse mundo, alguém já te disse isso?
— Só você que falar isso o tempo todo, Ana .rs... não sou tão pura assim, mas eu não consigo digerir esse pega - pega.
— Ysa, se um dia você souber separar amor de prazer talvez você consiga entender que nem sempre as pessoas estão afim de se apegar. Relacionamentos são complicados, exigem tempo, atenção, cuidado, lidar com problemas e situações, e nem todo mundo está preparado, entende?
— Não, Ana, não entendo. Relacionamentos não são complicados, as pessoas que são. Por mais simples que seja sempre tem alguém pra ir lá e dá um nó cego, complicam por medos, traumas, proteção... As pessoas têm mania de carregar o passado pra onde vão e isso estraga tudo. A maioria das pessoas tem medo do amor, essa é a verdade, porque elas sabem que de alguma forma vão ficar vulneráveis, e vulnerabilidade na cabeça dos tolos é fraqueza. Ninguém gosta de parecer fraco, Ana.
— Realmente, você tá certa, mas eu também não estou na vibe de me prender e nem por isso sou fria, sou?
— Não, Ana, você é a pessoa mais derretida que conheço, mas você tem um problema.
— Qual?
— Você quer mesmo que eu fale Ana?
— Quero, Ysa. Se você sabe algo sobre mim que nem eu mesma sei você precisa me falar pra ver se eu enxergo e conserto isso.
— Ok, Ana, presta atenção. Primeiro vou te fazer uma pergunta que vai te levar direto a sua resposta, ok?
— Ok!
— Não precisa me responder, responda para sim mesmo. Tem um motivo para você tá fugindo de relacionamentos, de não querer apego e nem trabalho? Alguém do seu passado gerou isso dentro de você. Foi alguém que você amou, se entregou, e foi a pessoa que mais te machucou na vida. Essa pessoa não estava conectada à sua essência, e a essência do amor é pura, Ana. A essência do amor não tem medo de se jogar, de se machucar. A essência do verdadeiro amor não pensa no prêmio final, não quer saber se é recíproco, se vale a pena, se vale os riscos ou se você vai receber o mesmo amor de volta. O amor só ama. Resumindo, você foi tão magoada que criou uma defesa e toda vez que você gosta de alguém esse sentimento de dor desperta para te lembrar que você não deve se apegar e passar por tudo outra vez. Então você acredita que tá se protegendo e cria alguns anticorpos que te fazem crer que você não quer um relacionamento porque se você gostar de alguém,vai sofrer de novo, mas a vida não é assim. Ana, você tem que acreditar no amor uma hora, e o mundo lá fora vai ver isso como falta de amor próprio, mas não é. O amor é puro por natureza. Então, se você ama você se torna uma pessoa tão pura que aos olhos dos outros você tá sendo vítima. Claro que amor próprio é indispensável, mas as pessoas estão confundindo as coisas, estão confundindo ego, machismo e carência com Amor. O amor passa longe de todas essas formas de status moderno. Ser dona de si não quer dizer que você não possa servir. Servir não é escravidão, servir é um ato de amor. Algumas pessoas se sentem humilhadas pelo simples fato de servir alguém. Elas se sentem inferiores, mas mal sabem elas que no momento que você se “curva” perante alguém, é o momento onde você está mais forte. Você dá poder ao outro e no momento que você cede esse poder você dá ao outro espaço para o outro mostrar quem ele é de verdade por trás das máscaras, da aparência, das pressões e da resistência. No momento que você cede você afrouxa os laços e deixa o outro se sentir poderoso e dono da situação. Poderia até ser usado como uma estratégia de jogo, porém no amor isso aqui não é um jogo. No momento que você reconhece o outro e lhe dá poder você pode ver a sua face oculta . Como o outro vai receber essa informação é problema do outro, você fez sua parte e entregou o seu melhor.
Existem aí 3 atitudes que o outro podem ter em relação a você: . Ele pode ser orgulhoso ao extremo, e não aceitar. Ele pode aceitar de forma narcisista e a partir desse momento sugerir que você não fez mais que sua obrigação, e sempre faz para agradar o seu ego. Aí você vai conhecer uma das máscaras de um relacionamento abusivo e vai ter como identificá-lo. E a terceira opção é a única em equilíbrio com o amor. A pessoa vai aceitar seu cuidado, vai reconhecer e agradecer o seu cuidado e vai fazer de tudo para, dentro das possibilidades dele ou dela, retribuir. As pessoas insistem em rotular relacionamentos abusivos como algo natural. Veem ciúmes, autoritarismo e joguinhos de culpa como cuidado e a outra metade insiste em chamar a submissão e controle do parceiro ou parceira de amor. Muitos falam, “ ah, ele é assim mesmo,” “ah, deixa pra lá”, “ah, ele tá nervoso”. Mas a cada “deixa pra lá” a pessoa tá se diminuído e se deixando de lado para agradar ao outro sem se importar com o que tá acontecendo com ela . Essa vontade de agradar o outro antes de agradar a si mesma é tão grande que a pessoa vai se anulando, perdendo sua identidade para ser alguém que ela não é até desaparecer e não mais se reconhecer diante do espelho, até chegar ao ponto do abismo onde você pergunta “quem é você?” E a pessoa não sabe responder. Nem quem ela é, nem o que gosta, porque agora ela gosta de tudo que o outro gosta menos do que ela mesmo gosta. Ela perde as referências mais importantes de um relacionamento que é o auto - respeito, o amor próprio e a identidade. Se você não se respeita, você não vai respeitar o outro, se você não se ama, você não consegue amar ao outro, se você não se valoriza, você não consegue valorizar ninguém. Felizmente, o universo é muito perfeito e criou a lei da projeção: o que você projeta, você recebe. Se você dá total poder da sua vida e das suas escolhas ao outro, o espelho te devolve as consequências, e quanto mais você se submeter a agradar aos outros menos escolhas você passa a ter, e de repente você tá em uma areia movediça com toda energia sendo sugada. Nesse momento só você pode reaver a situação, e com muito cuidado e equilíbrio voltar a sua posição. Não há dúvidas que controle e possessividade não são cuidado, e não há dúvida que amor e respeito andam sempre juntos, então se você ama você vai ter respeito por você e pelos outros. Quem ama não se maltrata para ver o outro feliz, isso não é amor. Mas quem ama pode servir sim, sem vergonha, sem se sentir fraco, sem se sentir desvalorizado porque se você ama você não quer ser recompensado, você só quer cuidar de longe ou de perto, você só quer a felicidade da outra pessoa, você pode desejar a outra pessoa pra você, mas sem querer estragar a felicidade dela em troca da sua. O amor não é troca, compra e nem negócio. O amor não é um jogo, muito menos peças montadas de um quebra cabeça. O amor se resume em sacrifício, sim, mas não é o sacrifício que o mundo conhece.
— Eu fico besta com você, Ysa . Como você, sendo tão nova, entende tanto sobre a - ida, sobre pessoas e relacionamentos?
— Não sei, Ana, acho que fui psicóloga em outra vida.
— Kkkkk, eu não acredito em reencarnação, e você, no que acredita?
— Eu aprendi a acreditar em tudo que dizem ser impossível, Ana. Minha vivência aqui me provou que o mundo é uma controvérsia, e que para nossa evolução enxergamos tudo de forma invertida até que estejamos aptos para ver a verdade nos próximos níveis.
— Oi, amiga.
— Oi Gleycis.
— Preciso falar com você. Tá onde?
—Tô saindo pro trabalho, mas pode falar.
— Não, tem que ser pessoalmente, e tem que ser hoje.
— Logo hoje? Tô cheia de trabalho.
— Quando você não tá? É urgente, não dá pra esperar.
— Gleycis, assim você me complica toda. Fico no escritório até as 17hs e vou dar palestra na faculdade das 18 às 21 hs. Podemos nos ver nesse intervalo de uma hora então.
— Não dá.
— Como assim, não dá?
— É muito pouco tempo e vamos precisar de mais tempo”
— Por que?
— Porque quero te levar a um lugar.
— Que lugar?
— Surpresa.
— Você sabe que não gosto de surpresa desde tipo. Se você já falou, metade pra mim não tem mais surpresa nenhuma.
— Brincadeira, amiga, vou te levar em um café novo que abriu na cidade. Que tal se eu te pegar na faculdade? Aí teremos mais tempo pra conversar.
— E o meu carro?
— Tem um estacionamento 24 hs vizinho aí na faculdade, você podia deixar lá.
— Gleycis, não tô entendendo. Pra que essa movimentação toda pra uma simples conversa?
— Não disse que era simples.
— Assim você me deixa nervosa.
— Não consigo imaginar você nervosa. Na verdade nunca vi você nervosa.
— Então não queira ver.
— Não, não quero... quero você bem calminha...Marcado então?
— Tá bom!
— Te pego as 21 hs.
— Ok.
— Beijo.
— Outro.
Liguei pra Ana:
— Ana”
— Oi. Tava pensando em você agora, ia te ligar.
— Ativar!v Mas eu liguei primeiro, hahaha. Ana, você não sabe quem acabou de marcar um encontro comigo?!
— Pela sua felicidade foi a professorinha.
— Tô tão óbvia assim?
— Tô desconhecendo você, senhorita mistério. Tá escrito em sua cara que você tá apaixonada.
— Ai, Ana, será que ela percebeu alguma coisa?
— Ysa, acorda. Olha a cara dela perto de você! Suas habilidades de leitura e de "mãe ysa" foram perdidas?
— Ai Ana, me erra, hoje não...
— E aí, onde ela vai te levar?
— Em um café.
— Que sem graça essa Gleycis. Esperava mais dela.
— Ana Carolina, o que você quer dizer com isso?
— Ysa, eu posso tá julgando ela errado, mas pelo que eu conheço de mulher e vejo nos olhos dela não é em pra um café que ela quer te levar. Dou minha cara a tapa se esse café não parar em um motel.
— Ana Carolina, respeita minha história! Acha que é assim me pegando e me levando pro motel? Né assim não, bb.
— Kkkkk, adoro esse seu jeitinho de menina inocente, sabia ? Você tem uma inocência para certas coisas que só deus descendo pra te dar uma sacudida.
— Ana, nem beijamos ainda e você já tá pensando em motel?
— Você é minha romântica favorita, Ysa Flor. Relacionamentos entre mulheres é diferente, Ysa, é um tanto que imediato, poxa. O sangue ferve, e quando você vê já foi.
— Ana, você é louca. Tchau!
— Tá indo para o escritório?
— Estou.
— Mas te falei que você não precisa ir lá hoje, o que tem dá pra fazer de casa.
— Você acha que vou ficar em casa e deixar um projeto tão importante nas mãos daqueles irresponsáveis? Vigia Ana, respeita minha história. Ou sai perfeito ou
melhor nem fazer.
— A virginiana sou eu, mas eu nunca vi uma sagitariana tão perfeccionista e viciada em trabalho como você.
— Me demita!
— Tá louca! Não consigo mais viver sem você.
— Olhe!!! Que bajulação a essa hora da manhã ,Aninha.
— Não é bajulação, você sabe que é verdade!
— Tá bom Ana. Fico no escritório hoje até as 17, qualquer coisa me liga.
— Ysa, por que você vai sair tão tarde?
— Ana, tenho um clipe seu pra rascunhar, sua agenda pra fechar e a semana inteira pra planejar.
— Menina, pra que fazer tanta coisa de vez?
— Ana, você tem que entender que adoro praticidade e agilidade, não consigo fazer una coisinha de cada vez, me dá urticária ficar parada, uma sensação de impotência, sou assim, costume-se. O dia não rende se não formos ágeis. Gosto de resolver tudo e deixar a semana planejadinha, e qualquer imprevisto que ocorrer estarei pronta pro combate. Aí imagina se eu fico na moleza, deixando tudo pra depois? Surge um imprevisto e você fica na mão porque eu vou tá ocupada demais resolvendo o que já podia ter sido feito. Deus me livre, Ana. Não tenho estrutura pra gente acomodada.
— Ok, Ysa, se te faz bem... Só não se sobrecarregue, por favor, fico preocupada. Você não deixa eu contratar ninguém pra ajudar você...
— Ajudar em que, Ana?
— Ysa, é muito trabalho. Desde que você chegou 3 já foram demitidos e você pegou a responsabilidade de 3 pessoas e até hoje não conseguimos resolver isso. Você não pode fazer tudo sozinha. A impressão que eu tenho é que só tenho você naquela empresa, sem você, ela quebra.
— Então deixe eu fazer meu trabalho, e você tá se preocupando a toa. Você sabe que tenho energia e capacidade suficiente para os 3 cargos e mais uns ...ah Ana, pare de novela mexicana uma hora dessa.
— Ysa, uma hora você vai ter que parar, você não é de ferro.
- Eu paro nas férias, você sabe.
— Vamos pra onde esse ano?
— Sei lá, depende da sua agenda de show.
— Depois vemos isso.
— Tá Aninha, vou dirigir agora, beijo.
— Beijos, linda
Cheguei no escritório e os novatos estavam no café em volta da mesa.
— A chefa chegou! - Falou Diego.
— A chefa é Ana Carolina - respondeu Marcelo.
— A chefa é quem manda - disse Juliana.
Ouvia a conversa enquanto caminhava plena até a recepção do escritório.
— Bom dia!
— Olá, estão discutindo quem é a chefa? A chefa é Ana Carolina, e eu não tô aqui pra substituir o lugar dela.
— Mas não é você quem manda aqui?
— Se eu mandasse aqui nenhum dos 3 estavam empregados porque não gosto de gente encostada que não mostra serviço. Se vocês levassem a empresa a sério não estariam na hora do expediente tomando cafezinho e falando besteira. Ana faz vista grossa, eu não, mas o fato de vocês não darem conta do serviço de vocês não atrapalha a minha função, só me dá mais chance de ter mais experiência e aprender mais fazendo o meu trabalho e o de vocês. Então amores, eu saio ganhando de qualquer jeito. Bom DIA!
Entrei na minha sala e fui surpreendida com uma caixa cheia de chocolate, e dentro da caixa pétalas de rosas vermelhas. Eu tenho um admirador na empresa ou tem alguém querendo me envenenar, e deve ser um daqueles três. Melhor não tocar.
Coloquei no mesmo lugar, sentei e o telefone tocou. “Nossa! começaram cedo hoje hein?”
— Diga.
— Senhora Ysa?
— Senhora não.
— Dona Ysa.
— Dona também não que não sou dona de nada, a não ser de mim mesma.
— Como devo chama-la?
— Senhorita Ysa. Tá vendo algum sobrenome de casada aqui?
— Senhorita Ysa, tem um pessoal aqui dizendo que marcou reunião com Dona Ana hoje.
— Impossível. Eu não agendei nada pra Ana hoje.
— Eles estão insistindo.
— Peçam para esperar na sala de reunião, já estou indo atende-los.
— Ok.
— Vou confirmar com Ana, vai que ela esqueceu de me falar, né?
...
— Ana, já tomou o medicamento?
— Já, Ysa.
— Aninha, você marcou alguma reunião hoje sem meu conhecimento?
— Eu? Eu não.
— Ok.
— O que houve?
— Tem um pessoal aqui de uma empresa dizendo que tem reunião com você hoje.
—- Eu não Ysa, deve ser um engano.
— Foi o que imaginei. Você está se sentindo bem, Ana?
— Tô sim.
— Tá enjoada ainda?
—- Ysa, não se preocupa, não estou sentindo mais nada. Se sentir algo estranho, eu te ligo.
— Por favor, Ana.
— E o que vai fazer aí?
— Vou atendê-los e ver o que aconteceu. Não se preocupa que eu resolvo.
— Ok, me retorna depois.
Certo. Se cuida!
— Você também.
Peguei a agenda e me dirigi à sala de reunião. Chegando lá, havia uma equipe de 5 pessoas.
— Olá Ysa. É mais fácil chegar até Ana Carolina que chegar até você.
— Bom dia pra vocês também. Eu não estou entendendo. Eu? Porque dizem isso? Sou tão acessível. Tão dada, toda exibida - brinquei - mas me digam, o que trazem vocês aqui?
— Você.
— Eu?
— Sim. Tentamos entrar em contato pelas redes sociais, mandamos e-mail mas sem sucesso.
— Já passou pela cabeça de vocês que se eu não respondi é porque não tenho interesse?
— Mas a proposta é boa demais para ser recusada . Você ao menos sabe do que se trata?
— Vocês são da indústria pornô?
— Não! - falaram espantados.
— Ah, então podem continuar e sejam breve porque meu tempo é limitado, estou no trabalho e não na Disney, sejam breves.
— Há algum tempo temos observado a evolução de Ana Carolina e descobrimos que por trás dela existia você. Chegou aos nossos ouvidos que você, além de produtora, cuida da imagem pessoal, da agenda e ajuda a administrar a empresa dela, é verdade?
— Sim.
— Como você da conta de tudo isso?
— Deve ser porque sou exibida.
— Ainda tem senso de humor.
— Desculpe, é uma entrevista?
— Não.
— Então vá direto ao ponto, odeio rodeios.
— Olha, a nossa empresa é melhor. Estamos em 33 países, somos o número 01 na América Latina...
— Ei lindo, pare por aí. Eu também fiz marketing, conheço esse papo. Fiz a gentileza de atender vocês fora da minha agenda, então por favor sejam breves, tenho trabalho aguardando.
— Ok.
— Queremos você.
— Não entendi meu filho, tem tanta gente me querendo, você já pensou se eu me der a todo mundo que me quer?
— Adorei essa mulher!
— Cala a boca Renato! — falou o chefe do grupo.
— Ysa, estamos falando sério. Te pagamos o triplo do que Ana te paga.
— Vocês não tem ética e estão sendo inconvenientes. Vocês acham mesmo que estou aqui por dinheiro?
— E por que seria? Acho que as pessoas trabalham em troca de dinheiro, não?
— Olha, nada contra a troca, mas eu trabalho por amor.
— Amor não enche barriga.
— Mas enche a alma. Eu prefiro morrer de fome mas com a alma nutrida que trabalhar pra vocês. Vocês já me provaram não ter ética, mentiram para chegar até a mim, vieram no meu trabalho, na empresa de Ana pra tentar me convencer a deixar de trabalhar para ela? Vocês nem merecem resposta, mas já que não entenderam o meu silencio eu desenho: N-Ã-O!!!
— Ao menos pense.
— Não! Não trabalho para pessoas sem ética profissional.
— A gente paga mais, diga quanto você quer?
— Quero vocês longe daqui. Não se trata de dinheiro. Tchau! Acho que não preciso chamar os seguranças, preciso? Tratei vocês com educação até aqui, então por favor se retirem. Não quero ter que usar a força, seria desnecessário, mas se vocês quiserem eu chamo a segurança.
— Não Ysa, não precisa se ofender.
— Como não? Vocês estão no meu trabalho. Ana é como uma mãe pra mim. Caiam fora!
— Vamos, ela vai se arrepender, ninguém recusa um dinheiro desses. Você nem esperou eu dizer seu cargo. Seria muito menos trabalho do que faz aqui e ganharia bem mais.
— Não tenho interesse. Tchau!
— Mulher foda, meu! O que tem de linda tem de marrenta. Ysa, eu vou, mas não vou desistir, entro em contato.
— Não se dê ao trabalho.
— Vamos!
Eles sairam. Fui pra minha sala, “ra, só o que me faltava.”
Bateram na porta.
— Entra!
— Oi, senhorita Ysa.
— Oi, Jackson, fala.
— Dona Ana ligou, disse pra retornar quando acabasse a reunião e chegou isso aqui pra senhorita.
— Rosas amarelas, que lindas! Tá aí, nunca tinha recebido rosas amarelas antes.
— Gostei. Tem cartão?
— Tem sim, senhorita.
— Jacson, deixe de vadiagem vá, pode me chamar de você. Que coisa!
— Mas a dona Ana pediu pra chama-la de senhora.
— Senhora é a mãe. Nossa, que lindas! Pode ir.
— Licença.
“Quem é o boy da vez? Exótico ele, gostei. Opa, não é boy! É da Gleycis. Tá, por essa eu não esperava.
"Um dia lindo para a flor mais linda do meu jardim." Bom trabalho, princesa.”
— Nossa!!! O que pensar? Ela tá pensando em mim uma hora dessa da manhã? Vixi.
“Ysa, não pense, pelo amor de Deus!....Tô tentando. A minha psicóloga interior tá me aconselhando, mas eu não quero ouvir. Vou ligar pra agradecer, lógico! “
— Oi Gleycis.
— Oi,Ysa.
— Obrigada pelas rosas.
— Gostou?
— Sim.
— Elas são lindas e exóticas como você.
— Você me acha exótica? Mas sou tão simplesinha.
— Você, simplesinha? Essa eu não conheço.
— Engraçadinha, liguei pra agradecer.
— Quero que me agradeça de outra forma.
— E qual seria?
— Se eu falar você faz?
— Se tiver dentro das minhas possibilidades, por que não?
— Ok, mais tarde te falo.
— Pra que o suspense? Você está me fazendo imaginar coisas que não quero.
— Por que não?
— Gleycis, tenho que trabalhar, nos falamos mais tarde.
— Tá de pé nosso encontro?
— Encontro?
— Não, quis dizer, café.
— Ah, sim!
— Passo lá as 21.
— Ok.
— Beijo.
— Outro.
“O que essa mulher quer de mim? Por que ela me tira a paz dessa forma? Me tira o ar, o chão, Aii...”
— Oi Aninha, você ligou?
— Liguei. Quero notícias, quem me procurava?
— Foi engano Ana. Estavam me procurando.
— Quem?
— Uma empresa com meia dúzia de manés. Vieram me oferecer emprego.
— Querem tirar você de mim de qualquer jeito, hein? É a segunda vez que isso acontece. Pra você vê como você está chamando a atenção da mídia.
— Eu, né?
— É sim, porque por trás de toda grande mulher existe outra grande mulher.
— Você e suas teorias, né Ana?
— Tudo o que você toca fica perfeito, Ysa, e isso chama a atenção de todos. Seu trabalho é iluminar vidas, e você ilumina a minha e a de várias pessoas.
— Mas me ama, né?
— Amo, sim.
— Recebi rosas amarelas.”
— Nossa, de quem? Do novo funcionário do financeiro? Vou demitir ele se continuar assediado você na empresa.
— Não Ana! deixa o rapaz, ele não fez nada demais, olhar não tira pedaço, tem horas que tu é radical, viu? Misericórdia!
— Ele que vacile de novo.
— Iiiiii, passou longe...
— Já sei! , a rofessora!
— Ela mesma. Ai Ana, tô nervosa.
— Pelas rosas?
— Não, por hoje a noite. O que será a coisa séria e urgente que ela quer falar?
— O que você acha que é, Ysa?
— Não sei, Ana.
— Você sempre sabe de tudo, menos quando se trata de Gleycis, já reparou? Nossa, tá parecendo uma adolescente apaixonada, perdeu o rumo tadinha!
— Não brinca, Ana.
— Ela disse onde vai te levar?
— De novo isso, Ana? Já te falei, ela disse que vamos a um café novo que abriu na cidade.
— Mentirosa!
— Juro!
— Não você. Ela!
— Por que?
— Ela vai te levar pro motel!
— Para de brincadeira, Ana!
— Não tô brincando, experiência própria.
— Ana, ninguém tá afim de saber suas aventuras pornôs.
— Depois não diga que não te avisei.
— Ana, só vamos conversar em uma café como sempre fizemos!
— Rumrum ... Então nem vou esperar ligação sua hoje.
— Vou ligar, sim! Você vai dormir cedo?
— Não. E se eu dormir me acorde, por favor, quero saber os detalhes sórdidos.
— Me respeita Ana Carolina, que não sou você.
— As Santinhas são as piores, e a professora tem uma cara de santinha, mas deve ser uma...
— Ana Carolina!!!!
— Kkkkkkkkkkkk, tá bom, tchau!
“Affff, Ana é tensa!”
Continuei trabalhando, mas meu pensamento estava longe e uma hora e outra eu pensava naquele sorriso.
“Nossa, que poder esse sorriso tinha sobre mim...”.
Deixei tudo pronto na empresa e fui para a faculdade palestrar sobre SEXO, e era de se esperar... sala lotada! Depois da palestra, chuva de perguntas e elogios. A professora Kátia Damasceno vindo em minha direção significava problema a vista.
— Ysa Flor, sua maravilhosa, você pode me dar uma mãozinha?
— Pra que professora, se a senhora tem duas? Precisa de 3, né gulosa? Vamos marcar logo uma suruba, conheço uns caras ótimos.”
— kkkkkkkk, só você pra me fazer rir litros.
— A senhora tá velha, viu Kátia? Não ouvi essa expressão na atualidade, vá se reciclar.
— Perturbada, que perfume é esse?
— Não é perfume, é meu cheirinho natural, nasci assim.
— Abusada! Você esta intimada a palestrar em um evento fora da faculdade. Ysa, se você for te dou nota máxima.
— Mas professora, eu vou tirar nota máxima de qualquer jeito, sua proposta tá fraca.
— Você não precisa fazer prova esse semestre.
— Só esse semestre? Se me liberar o ano inteiro eu posso pensar.
— Você tá abusada, viu Ysa!?”
— Sou porque posso. Mas professora, nem assim vai dar, eu não tenho mais agenda disponível esse mês.
— Ysa, por favor, você me daria nota máxima no meu doutorado e ainda você ia ganhar pontos com o reitor, você sabe que ele te adora.
— Eu tambem adoro ele. Meu celular tá tocando, um momento.
— Oi Gleycis.
— Oi, tô aqui fora.
— Ok, já tô saindo. Em qual entrada você está?
— A.
— Ok, me dá só 5 minutos e tô aí. Professora, me liga semana que vem, tenho que ir.
— Ok, ysa. Você arrasou hoje!
— Obrigada.
— Pense com carinho.
— Ok.
Já saindo, fui abordada por uma aluna da turma de medicina.
— Ysa, você tem um minuto?
— Oi, na verdade tô atrasada, mas se for rápido pode falar
— Queria saber mais sobre aquela técnica de torcer.
— Não dá pra te mostrar agora, mas se você for em meu insta você vai achar essa e outras técnicas. Se você tiver dúvidas, fala comigo em off que te respondo.
— Obrigada!
— Imagina!
Cheguei lá fora e vi o carro de Gleycis.
— Te fiz esperar muito?
— Não. Cheguei a pouco tempo, mas esperaria a noite toda.
Ela veio me dar um beijo no rosto, e não pude deixar de notar que ela trocou o perfume.
— Vamos!
— Onde?
— No café que te falei!
— Sim!
Fomos no café e estava lotado. Dia de inauguração, muitas degustações. O local era incrível. Sentamos e provamos bem uns 12 tipos de café . Eu provei o de doce de leite, já ela gostava de sabores mais exóticos, como menta. Café com menta era novidade pra mim. Eu estava curiosa sobre o assunto, então perguntei:
— E aí, o que você queria me contar?
— Aqui tem muito barulho, não achei que ia estar tão cheio, o que você acha de conversarmos em um lugar mais calmo?
— Tá, pode ser. Vamos lá fora então?
— Mas tá chuviscando, Ysa.
— Que tal dentro do carro?
— Acho perigoso ficar dentro do carro uma hora dessa na rua. Podemos ir na sua casa ou no meu apartamento!
Eu só lembrava do que Ana falou, parecia que tinha uma vozinha daquela diaba no meu ouvido dizendo: “eu te avisei”. Eu fiquei nervosa, não sabia o que fazer, o que responder, então tentei novamente...
— Olha, vamos pro carro.
— Ysa, não tem movimento nenhum na rua, tá chovendo, deserto e a maioria dos assaltos acontecem dessa forma.
— Você não precisa ter medo. Eu luto, sabia?
— Não quero você tendo que lutar. Podemos evitar passar por isso.
— Sabe o que eu acho Gleycis?
— Não.
— Que você ta me enrolando.
— Eu? Não é isso. É que aqui não é o melhor lugar.
— E onde seria?
— Na sua casa ou na minha. A sua tá mais perto, mas se quiser te levo na minha.
— Pra que isso, Gleycis?
— Você viu, eu tentei marcar aqui, mas não tivemos sorte de estar calmo.
— E se a gente for a outro lugar? Um barzinho talvez...
— Aí corremos o mesmo risco de estar barulhento, e eu queria tomar um café feito por você novamente. Sabia que seu café é famoso? Ele faz o maior sucesso.
— Quem te falou isso?
— A turma falou que você fez um café inesquecível no dia da reunião. Falaram que voce é super caprichosa na cozinha. Deu pra ver no dia que fui lá em sua casa.
— Que isso, exagero deles.
— Não precisa ser modesta. E não foi uma pessoa só que falou. Estavam falando até em contratar seus serviços para o evento de final de ano.
— Nossa, tô tão famosinha assim?
— Famosona!
— Kkkk.
— E aí, o que você decidiu? Vai me oferecer um café?
— Gleycis, acabamos de tomar café.
— Mas não foi o seu café. Vai, tô com vontade.
— Ok, vamos!
Eu só ouvia a voz da diabinha da Ana no meu ouvido dizendo: “eu avisei”., conseguia ver a cara dela me zuando. “ meu deus, eu tinha que fazer alguma coisa, eu não tava pronta pra isso.
— Ysa, chegamos. Você tá aérea hoje.
— Nossa, Gleycis, esqueci que não tenho pó de café em casa.
— Jura?
— Desculpe, acabei de lembrar.
— Não tem problema, tem um .mercado aqui perto.
— Tô sem dinheiro na carteira.
— Eu compro.
— Não precisa!
— Faço questão!
“Meu Deus! O que mais eu iria inventar essa noite, tava longa demais pra o começo”.
— Vem, chegamos!
Entramos no mercado e ela me puxou pela mão.
— Vem, aqui deve ter!
— Qual dessas marcas você prefere?
— Pegue a sua favorita, afinal o café é pra você.
— Ok, vamos!
Entramos no carro e tava um clima tenso. Paramos novamente em frente de casa, eu congelei. Ela ficou me olhando e disse:
— E aí, vamos entrar?
— Ah, sim, vamos! Espera, eu lembrei que não tenho filtro de café. Acabou também.
— Por que você não falou lá no mercado?
— Esqueci, só lembrei agora.”
— Sabe o que mais gosto em você?
— Não!
— Tudo, mas principalmente sua cara quando você fica tímida, vermelha, como agora. Virei o rosto desviando o olhar. Ela ligou o carro novamente.
— Ok, vamos comprar o filtro do café. Tem mais alguma coisa que você me diria que acabou? Açúcar, adoçante, pão... Tem pão? Eu só tomo café se tiver pão.
Eu não conseguia pensar. Não sabia como reagir aquilo. Não sabia o que falar.
Então falei:
— Desliga Gleycis. Olha, já tá tarde, o mercado deve ter até fechado já. Vamos deixar essa conversa pra depois? Prometo que te convido pra um café, faço até pão quentinho pra você. Mas amanhã trabalho cedo.
— Coincidência, porque eu também trabalho”.
— Então...
— Ysa, você tá me enrolando. Aposto que tem café, tem filtro de café e um banquete inteiro na sua mesa.
Ela desligou o carro, tirou o cinto, se aproximou, e eu ali imóvel sem me mexer. Ela olhou em meus olhos e me agarrou enquanto no rádio Luan Santana cantava:
“ Quer que eu faça o café um café, que faça minha vida se encaixar na sua...”
Eu estava beijando uma mulher primeira vez na vida, e tava sendo o beijo mais incrível da minha vida até ali. Quando ela parou de me beijar, disse:
— Vai me convidar pra subir?
Eu respondi:
— Não, acho que você já teve o café que você queria. Até amanhã!
Desci do carro, e ela ficou lá parada, esperando eu entrar. Entrei com as pernas ainda tremendo e eu não acreditava que aquilo tinha acontecido. Foi tão bom, e ao mesmo tempo tão surreal para mim. Eu só pensava em como seria o próximo encontro, e se eu ia conseguir olha- lá novamente.
“Essa hora, quem será?”
— Oi, Aninha.
— Não tava conseguindo dormir de ansiedade, e você não liga.
— Eu ia ligar Ana, tava aqui pensando em te ligar.
— E aí?
— E aí o que?
— O encontro, como foi?
— Ana, eu nunca fiquei tão tímida na minha vida. Acho que não conhecia esse sentimento até o dia de hoje.
— Pra onde ela levou você?
— Pro café Ana. Eu falei que ia no café, que coisa!
— Ysa, para de me enrolar e conte os detalhes sórdidos.
— Não teve detalhes sórdidos, Ana.
— Duvido.
— A gente se beijou.
— Eu sabia! E depois?
— Depois eu saí correndo do carro antes que ..: sei lá!
— Ah Ysa, você estragou toda a diversão.
— Pervertida!
— Tu beija a professora e eu que sou pervertida?
— Eu não! Ela que me agarrou!
— Mentira!
— Juro, Ana!
— Já vi que se dependesse de você ia render uma novela mexicana pra rolar um beijo.
— Não me zoa, Ana.
— E como você está se sentindo?
— Na lua, Ana, apaixonada. Eu acho que nunca tinha me apaixonado por ninguém antes. Eu só tive um namorado em toda minha vida. Dele eu gostava, mas não é a mesma coisa.
— Ysa, você só pensa em trabalho, como quer arrumar um namorado?
— Ai Ana, tô dizendo que tô apaixonada pela primeira vez em toda a minha vida, não sei o que esse mulher fez comigo. Eu me sinto fora de mim, sinto que não tenho controle perto dela, e você sabe que eu odeio perder o controle da situação e ela faz isso comigo. Quando tô com ela eu me entrego sem querer me entregar, tenho vontade de dizer eu te amo e sinto que eu tenho 15 anos perto dela, me sinto boba e eu odeio me sentir assim. Eu descobri hoje porque eu odeio bebida, Ana. A bebida me
faz perder o controle, é como se ela tivesse poder sobre mim e eu não suporto essa sensação de sentir que alguma coisa me domina. Você entende o que eu tô dizendo?
— Kkkkkkkk, entendo que você tá arriada os 4 pneus, Step e amortecedor. Fim de carreira pra você, Ysa flor!
— Não fala assim, Ana, tô desesperada”.
— Não fique Ysa, a gente não pode ter o controle de tudo na vida.
— Eu não quero tudo, Ana, só quero ter o controle de mim mesma e eu perco isso com ela.
— Isso é paixão, Ysa e você vai ver que não tem como evitar. Queima o que tem pra queimar e deixa rolar naturalmente. Relaxa, eu tô aqui se precisar de qualquer coisa. A Gleycis me parece muito apaixonada por você também. Vocês são amigas ha 1 ano e já se conhecem o suficiente para saber que podem confiar uma na outra.
— Tá Ana, eu vou dormir, amanhã a gente se fala.
— Você não vai conseguir dormir, Ysa. Do jeito que você é intensa, duvido que consiga.
— Não me roga praga, Ana.
— Vem pra cá logo. Bora virar a noite conversando e tomando um vinho.
— Você sabe que eu odeio seu pro seco”.
— Comprei um vinho branco essa semana pra você.
— Agora sim. Ana, eu não tô em condições de dirigir até ai. Tô zonza ainda, tô trêmula, febril. Melhor não.
— Meu Deus, Ysa, o beijo de Gleycis de deixou doente?
— Não Ana, mas juro que tô fora de mim.
— Então eu vou dormir aí com você, posso?
— Claro Ana, vem sim, trás meu vinho.”
— Pode deixar.
— Vê se não dirige igual uma louca, vem com cuidado.
— Ok.
Fui correndo pra cozinha pra fazer o brigadeiro meio amargo que Ana adorava. Deixei esfriando e fui tomar banho. Liguei o rádio e estava tocado de novo a música do Luan. Coloquei pra gravar em meu celular e ficou repetindo sem parar ... “Não, aí já é sacanagem, Luan Aumentei o som e liguei o chuveiro, meu celular tocou.
— Ahh, agora seja lá quem for, vai esperar.
Tomei banho, me enrolei na toalha e peguei o celular. Tinha 3 chamadas perdidas da Gleycis, foi inevitável não sorrir mesmo que eu não quisesse. Meus lábios se contraiam sozinhos e escancarava o sorriso que eu queria manter oculto. Liguei de volta.
— Oi, você me ligou?
— Liguei , queria dar boa noite.
— Boa noite.
— Como você está?
— Do mesmo jeito que me deixou.
— Hum... E como te deixei?
— Não tô entendendo.
— Tem certeza que não? Quero te ver amanhã.
— Amanhã trabalho o dia inteiro.
— Você trabalha muito.
— Eu gosto do que faço.
— Nessa sua agenda tem um tempinho pra mim?
— O que você quer comigo, Gleycis?
— Quero você... Que música é essa ? Por acaso é a música de Luan Santana que tocava quando a gente se beijou?
Saí correndo e abaixei o som.
— Impressão sua. Tenho que desligar, Ana tá na porta.
— Quem?
— Ana.
— Ana Carolina, sua amiga?
— Sim.
— A essa hora?
— Não existe hora pra Ana vir em minha casa.
— Poxa, você podia me convidar também. Depois que ela for embora posso passar aí?
— Ela vai dormir aqui hoje.
— Por que?
— Porque eu convidei.
— Me convida também, sou sua amiga não sou?
— Gleycis, nunca compare a nossa amizade com a minha amizade com Ana. Já te falei que a Ana é como uma mãe pra mim.
— Desculpe, Ysa, é só a vontade de estar perto de você.
— Tenho que ir, amanhã conversamos.
— Você me liga?
— Ligo sim.
— Beijo.
— Outro.
Corri até a porta.
— Entra Aninha.
— Tava falando com quem?
— Gleycis.
— Mas Já?
— Ela ligou, eu retornei.
— O que ela queria?
— Me desejar boa noite.
— Que fofo!
— Já tomou café?
— Eu já, mas quero o seu de novo.
— Fiz brigadeiro pra você.
— Que delicia, quero agora.
— Calma Aninha, deixa esfriar mais.
— Eu trouxe seu vinho.
— Hoje vamos encher a cara”, falei me dirigindo até a cozinha.
Ana veio, puxou a cadeira e sentamos à mesa. Como sempre, ela colocava os pés em minha perna.
— Até parece que vai beber todas.
— Você fala que sou fraca mas nunca te vi bêbada.
— Ah, já fiquei bêbada várias vezes, você não acompanhou esse tempo.
— Graças a Deus, odeio ver gente bêbada. Fede, só faz merda e ainda vomita ... Que graça isso tem?
— Ysa, pessoas como nós odeia perder o controle, foi o que você falou mais cedo.
— Imagina eu sem saber o que disse noite passada? Da pra imaginar? Não, Ana. Já bebi, mas hoje em dia não mais.
— É, você Ysa, tão nova, mas tão adulta, tão controlada... Essas são as piores... Você precisa sair, namorar, se divertir. Já tava preocupada com você, só estuda e trabalha
—Ana, você tem que entender que nada me dá mais prazer do que estudar.
— Isso porque ninguém te deu um bom orgasmo ainda.”
— Ai, Ana, nossa, como você é pervertida!
— Kkkkkk, como você é santa, Ysa! Gleycis tá chegando pra tirar sua virgindade.
— Não sou virgem, Ana, deixa de graça!
— Minha filha, pelo tempo que você leva sem transar, com certeza ficou virgem de novo.
— Ana, você não tem coisa melhor pra fazer que ficar contando minhas transas?
— Eu não, mas você é nova Ysa, precisa transar, com camisinha, claro.
— Ai Ana, pelo amor de Deus, já passei da idade de ter aula de educação sexual. Tô bem informada, obrigada.
— De nada, vamos mudar de assunto. Vamos lá pro sofá, é mais confortável.
— Vamos sim - falou ela arrastando o prato de brigadeiro - vou levar comigo.
— Todo seu! Fiz torrada com orégano e tomate seco também.
— Ysa, você é minha cozinheira favorita. Seu marido vai ser sortudo demais, ou melhor, sua mulher ...
— Deus me livre Ana, quem tá falando em casamento?
— Eu! Olha, não bebe, não fuma, não fode ... Tem que casar!
— Você tem cada uma, viu Ana?!
— Quando você chegar na minha idade você vai arrepender de todas as transas que dispensou.
— Credo, Ana Carolina, tá na seca? Se eu fosse transar com todo cara que da em cima de mim já tinha dado mais que chuchu na serra.
— Você não teve muitos namorados, né?
— Tive uns quatro, mas nada sério.Um deles era cantor.
— Eu conheço?
— Conhece, mas graças a Deus não mora aqui na cidade. Encontrei com um ele naquela conferência que a gente fez no Rio. Lembra do boy que veio falar comigo, e você ficou dizendo que ele tava dando em cima de mim?
— Mentira!!!
— Verdade!
— Era ele?
— Era!
— E por que não deu certo?
— Porque éramos novos demais, e ele muito imaturo pra minha mente evolutiva.
— Metida!
— Kkkkkk. Mas vamos falar da Gleycis.
— Enche meu copo Ana, só bebendo.
— Comigo pode, mas não vai fazer isso por aí.
— Sei me cuidar, Ana, não se preocupe! Nossa, que vinho bom! Onde você comprou?
— Na Serra.
— Adorei!
— Me conta!
— To apaixonada mesmo, não vou negar!
— Não dá pra negar Ysa, sua cara é impagável. Ela já te pediu em namoro?
— Que isso, Ana? Em que tempo você está? Respeita a minha história, kkkkkkk.
— Tem que pedir, e avise a ela que tem que ter minha permissão.
— Bença mainha, kkkkkkk.
— Ysa, você sabe que tem que usar preservativo mesmo com mulher, né?
— Ana sou formada em sexologia. Tá um pouco tarde pra me ensinar a usar camisinha.
— Só tava tentando ajudar.
— Se duvidar eu que tenho que te ensinar.
— Respeita meus cabelos brancos, Ysa Flor!
— Ana, me diz, você gosta de transar mais com homem ou mulher?
— Mulher, com certeza.
— E com homem?
— Rolou poucas vezes no calor do momento, mas não é minha preferência.
— Você já se apaixonou por um homem?
— Já.
— Mentira!! Um homem conquistou o coração de Ana Carolina!?
— Sim.
— Como foi? Fala, o que mais?
— Me machucou na vida.
— O que aconteceu Ana?
— Ele me traiu com minha melhor amiga.
— Sacana os dois.
— É, mas passou Ysa.
— Ana, você também tá apaixonada por aquela mulher fresca, não tá?
— Tô, Ysa.
— Eu percebi na primeira vez que vocês se olharam. Pareceria cena de novela. Você passou a viagem toda aérea.
— Foi tão óbvio assim?
— Foi.
— É amiga, somos duas românticas.
— Por que vocês não ficam juntas de vez?
— Complicado!
— Não tem nada complicado, vamos descomplicar agora!
— Ela mora em outro país.
— Existe avião pra que?
— Não é tão simples Ysa. Não posso viver viajando atrás dela, e minha carreira, e meu trabalho, e você?
— Ei, não me coloque como impedimento, Aninha, eu sou adulta, sei me virar. Mas o seu trabalho você realmente não pode largar. O que seria do Brasil sem sua voz? O que seria da gente sem Ana Carolina? Misericórdia, nem pense nisso. Te proíbo! Você vai cantar até os 100 anos e na eternidade!
— Credo, Ysa kkkk.
— Ana, chama ela pra se mudar com você.
— Já chamei. Ela não quer morar no Brasil e a carreira dela também é lá.
— Então sejam um casal moderno. Passem a eternidade namorando, pronto, se vejam quando der.
— Ysa, minhas necessidades agora são diferentes do que eram a um tempo atrás . Agora eu sinto necessidade de segurança, de ter alguém ao meu lado, alguém que não vá me abandonar por qualquer mal entendido, alguém que confie em mim, alguém em que eu possa sentir uma conexão maior, sabe ...
— Sei Ana, alguém além da cama.
— Isso aí, Ysa.
— Ana, você quer casar.
— Não exagera, Ysa.
— Quer sim Ana, eu sou a dama de honra, aiii Xiada ....
— Não fala assim dela.
Ana, porque ela fica com aquele guardanapo na hora do almoço limpando tua boca por segundo? Que constrangimento, Ana!
— Kkkkkkkk, você me faz rir quando não posso, Ysa. Ela ficou cismada com você.
— Ela acostuma.
— Quero saber o que vai rolar amanhã com você e Gleycis... Vão se ver na aula.
— Ela queria vir aqui hoje de madrugada, acredita?
— Sério?
— Sim.
— Ai meu deus, Ysa, vou pra casa, por que você não falou nada? Não quero atrapalhar vocês.
— É capaz, Ana, Te situa! Mesmo se você não tivesse aqui não ia deixar ela vir aqui a essa hora.
— Por que não?
— Porque eu gosto de curtir o momento Ana, não gosto de colocar pressa no que não deve ter. As coisas estão acontecendo e eu prefiro que seja natural, sem forçar. Se tiver que acontecer, vai acontecer.
— Você tá certa, Ysa. Nossa! Nunca em toda minha vida comi um brigadeiro igual ao seu.
— Você sempre fala isso, Ana.
— E vou morrer falando.
— Você não vai morrer sua besta.
— Como não, Ysa? Todo mundo um dia vai morrer.
— Quem te disse isso? Você é imortal, Ana, gosta de se iludir.
— Você já tá com sono, né?
— Eu não!
— Tá sim! Quando você começa a rir não dá 30 segundos.
— Não vou dormir.
— Descanse Ysa, vamos dormir, amanhã a gente levanta cedo.
— Dormir nada, vamos dançar!
— Tá louca? Eu já tô tonta.
— Eu também, kkkkkk.
— Ysa, você tá rindo demais.
— Kkkkk, é porque você ta rindo também.
— Eu tô só de ver você rindo”.
Liguei o som no máximo.
— Os seus vizinhos vão reclamar.
— Não vão, aqui tem proteção à prova de som, foi a minha única exigência quando aluguei esse apartamento porque adoro música. Vem dançar! — puxei ela pelo braço e eu estava tentando ensinar a dançar arrocha.
— Não dá pra mim.
— Ah, vai ter que dar! Ana, você é toda dura.
— Vou partir no meio.
Ana era muito desengonçada dançando. Eu mais ria que conseguia dançar. A gente se divertia muito.
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