Cap.5 - Ana

Lembro-me como se fosse hoje. Ela entrando com um monte de seguranças e repórteres na cola e eu super nervosa pois era fã. Eu sabia todas as músicas dela, era a voz que eu mais gostava em toda a humanidade e eu não estava exagerando, realmente estava nervosa. No momento que ela entrou eu senti que já a conhecia. Foi uma sensação bem estranha, eu sabia que não era só da TV e das músicas, existia uma conexão maior, eu só não sabia explicar. Ela veio em minha direção e eu gelei.

“Nossa, o que será que ela está vindo fazer aqui?” , me perguntei em silêncio, pois a conduta da empresa era notificar por e-mail ou pedir para um funcionário ligar depois de uma semana avaliando cada candidato. Tinham 15 candidatos: 5 homens e 10 mulheres, todos com ótimas referências. Eu nem referência tinha, seria praticamente impossível ser contratada. Ela me olhou e disse:

_ Você é a pessoa que eu estava procurando, Ysa! Bem vinda à empresa.

_ Nossa, já?

_ Não quer o emprego?

_ Claro! Obrigada, Ana.

_ Não agradeça, o talento é seu. Vou aqui falar com meu empresário e já conversamos melhor, só um momento”.

_ Ok, vou aproveitar e ir ao toalhete.

Eu não estava me contendo de tanta felicidade. Liguei do banheiro, gaguejando, para Felipe, ainda sem acreditar:

_ Aa-mi-go você não sabe!!!

_ Sei sim, Ana te contratou.

_ Afff como sabe?

_ Eu vi no seu mapa que vocês tem uma ligação forte e que a sua estrela brilharia muito ao lado dela, então só pode ser algo positivo.

_ Ai Felipe!!! Não fala assim que fico ainda mais emocionada, nem sei porquê eu tô chorando. Foi um colapso de emoções, você não sabe o que senti quando vi ela vindo em minha direção... Era como se fosse um reencontro de alguém do passado, alguém que eu tinha muita saudade, mas não sabia. Ai, Felipe, que louco essa mistura de sentimentos, acho que perdi a estrutura psicológica e só saio desse banheiro quando me recompor, eu nunca tremi tanto.

_ Calma amiga, talvez vocês já se conheçam.

_ Claro Felipe, eu conheci ela da TV, dos mil dvds que tenho, das fotos no meu álbum...

_ Ysa, escuta, você não sabe se a conhece de uma outra vida.

_ Ai Felipe, lá vem você, para com essa conversa! Eu tô tão feliz, eu vou trabalhar com a Ana, você sabe o que isso significa pra mim?

_ Sei amiga, e como sei. Vai dar tudo certo, eu confio no seu talento, você é a estrela mais brilhante da minha vida.

_ Também te amo, amigo. Tchau, vou retocar a make e entrar naquela sala arrasando.

_ Isso amiga, chegue chegando, mostre pra que veio.”

_ Sempre! Beijo.

Eu lavei o rosto, retoquei a make, fiz o exercício de respiração de 5 minutos e entrei inabalável.

Ana estava sentada conversando com Bruno, empresário dela, e sorriu para mim. Eu sorri de volta. Sentei à mesa junto com eles e me deram os contratos, falando:

— Oficialmente contratada!

Posso ler? - perguntei.

— Deve - completou Ana.

Bruno, retrucou:

— Nossa Ana, onde você achou essa lenda? Em anos de contratação ninguém nunca se deu o trabalho de ler o contrato, muito menos o formulário. Estou chocado! Ela vai ler tudo mesmo?

— Sim querido, vou ler, se tiver com pressa posso voltar amanhã.

— Não, imagina! Eu espero, fique à vontade, amanhã já queremos você na empresa.

— Então me de 2 minutos.

— O tempo que precisar”.

— Obrigada.

— Imagina.

— Ana, o que ela está fazendo? Que criatura enigmática! Por que ela pegou um dicionário da bolsa?

— Vai saber...

— Querida, se tiver em dúvida de alguma coisa pode perguntar, - 0 empresário já estava ficando impaciente.

— Não, obrigada . Estou entendendo perfeitamente.

— E por que o dicionário?

— Porque quem redigiu o documento cometeu um erro grave aqui, e eu fui verificar se estava certa disso para poder comunicar a vocês. Bem aqui, onde circulei, tá vendo? Essa é uma palavra ambígua e pode ter vários significados, não casa nesse contexto. Ou vocês estão dizendo que vão me pagar 30 mil reais, duas vezes por mês, 15 mil a cada quinzena, é isso mesmo? Se eu assinar esse contrato do jeito que está aqui, a empresa se compromete a me pagar 2x no mês. E outro detalhe: sobre o horário, não ficou claro pra mim.

— Ah, boa pergunta. Na verdade Ana ainda não conseguiu prever a agenda dela, então os horários estão em aberto. Mas a necessidade da empresa é que você trabalhe a hora que ela precisar, de acordo com a agenda.

- Não gente, vocês não podem fechar um contrato assim, precisam deixar isso específico, bem fechadinho aqui. Imagina se eu sou uma louca e depois processo vocês dizendo que trabalhei mais horas? Como vocês vão comprovar isso? Eu poderia também dizer que ... ah desculpe, me empolguei. Mas é isso.

— Não — falou Ana — Eu quero ouvir, continue, estou adorando. Você é detalhista ao extremo, e eu gosto disso. Acho que encontrei uma mina de ouro.

Eu sorri e disse:

— Ô Ana, com essa voz a mina de ouro aqui é você, eu só estou fazendo o meu trabalho.

— Não, você tá fazendo além do seu trabalho. Seu trabalho não é corrigir papelada, nem ser essa orientadora, era só pra ser minha assistente pessoal, mas agora eu quero mais de você, garota, você tem um talento incrível de percepção.

— Oba, assim que eu gosto. Mais? Manda aí então. O que quer que eu faça?

— Quero saber o que você sabe fazer.

— Tudo!

— Como assim, tudo?

— Ana, só me diga o que você precisa e eu te mostro.

— Meu deus, onde você achou essa deusa, Ana? Tô assustadíssimo — disse Bruno sorrindo.

— E você acha que estou como? Menina, você tem noção do que tá falando?

— Você está me dizendo que se eu te colocar na ADM da empresa você dá conta?

— Dou sim, Ana.

— Mas você não tem formação.

— Não disse que tinha, disse?

— Mas você tem algum curso na área?

— Não, eu disse.

— Então esquece, impossível.

— Experimenta .

— Como? - perguntou Ana surpresa.

— Você disse impossível, e eu estou aqui pra te provar que essa palavra não existe em meu dicionário. É tudo limitações da mente.

Bruno levantou da cadeira, passou a mão na cabeça e disse:

— Ana, você me dá licença que eu tô passando mal com essa garota.

— Ok, pode sair — respondeu Ana com um ar de ironia.

—Tá louca, não perco isso por nada. Voltei! - disse ele sentando-se novamente. Olhou para mim e perguntou:

— Ok, então vamos fazer um teste. Você sabe responder todas as perguntas sobre a ADM de uma empresa?

Eu estava tranquila e eufórica ao mesmo tempo:

— Olha, pergunte, talvez eu não saiba responder, o que eu sei é trabalhar. Mas pergunte, se eu não souber eu vou ser sincera.

— Gente ela tá falando sério. Vou pegar o relatório e te entrevistar como se fosse te contratar para Adm, ok?

Ok.

Após me entrevistar, Bruno se dirigiu a Ana e disse abismado:

— Ana, incrível, ela acertou 8 perguntas das 10, mas mesmo não sabendo responder a teoria ela soube executar a tarefa. Ou seja, ela acertou as 10.

— Parabéns, Ysa!

— Obrigada, Ana, vou dar sempre meu melhor, mas vocês precisam saber pra que vão me contratar.”

— Minha assistente, lógico!

— Mas Ana, a ADM precisa muito! Ninguém tem parado nesse cargo, tem cometido vários erros e é o setor que mais precisamos de ajuda nesse momento.

— Não, de jeito nenhum que vou deixar essa jóia presa em um escritório. É um pecado, ela vai comigo onde eu for.

— Eu concordo com Ana - falei sorrindo - mas vou fazer uma coisa por você, Ana, só porque sou sua fã vou te ajudar. Faz assim, eu sou sua assistente, mas te ajudo na contratação de uma pessoa competente para assumir a ADM da empresa.

Bruno ironizou:

— Humanas também? Como assim?

— Eu tenho técnicas para saber a intenção das pessoas. Sei quando estão mentindo, se tem a intenção de te prejudicar. Sei quando estão querendo tirar proveito de alguma situação, sei identificar quem tem potencial e quem não tem para exercer um determinado cargo.

— Meu deus menina, o que você tá falando? Você trabalha pra o FBI? — Bruno me perguntou com um ar de deboche. Virou pra Ana rindo e disse:

— Ana, ela é muito boa pra ser de verdade . Acho melhor demitir.

- Mas eu nem fui contratada ainda!

— Garota, que medo de você - disse ele. .

— Kkk. Quando você me conhecer vai ter motivo para ter medo. Ana não tá com medo, né Aninha?

— To sim, apavorada - disse rindo. Mas se você puder provar o que falou eu te contrato com o dobro do salário pra você ser minha assistente e orientadora da empresa.

— Ok.

Ele abaixou o tom de voz. Percebi que ia dizer algo bem sério, e prosseguiu:

— Vou chamar aqui duas pessoas. Olha, isso é um assunto extremamente restrito e não pode sair daqui, nem elas sabem que estão sendo investigadas. O delegado da cidade já está a par do acontecimento.

— Ok, Ana, conte com minha discrição.

— Se você conseguir me dizer quem é o responsável pela fraude, os dois cargos serão seus. Estamos suspeitando que uma delas está desviando verba para a conta pessoal.

— Nossa, tenso hein... Deixa comigo, só preciso de umas coisinhas - eu disse com muita seriedade.

— O que você quiser - respondeu Ana.

— Ok. Preciso de um policial fardado, um crachá com nome e número de registro, um terno preto, batom vermelho tá aqui na bolsa, deixa eu ver mais ... ahhh, e um café do Starbucks.

Bruno ironizou:

— Pensei que queria material para trabalho, mas o que é isso?

— Material para trabalho, ué — eu disse confiante.

Ele já estava ficando nervoso.

—Como assim, tá brincando né?

—Não, estou falando sério.

— Por que você quer terno, policial e café?

Senta e assiste Aninha , você vai ver.

Ana virou para ele e disse:

— E você está fazendo o que aqui ainda que não foi providenciar?

Bruno estava indignado:

— Vocês não tão falando sério, estão?

Olhamos, nós duas ao mesmo tempo pra ele e falamos juntas:

— Seríssimo!

Rimos, e ele saiu correndo e gritando:

— Ai que euforia, adoooro!!!

— Ysa, eu não ia te falar nada, mas gostei mesmo de você. É como se eu já te conhecesse antes, coisa louca porque nunca te vi.

— Jura, Ana ? Eu senti a mesma coisa, que estranho né? Mistérios da vida, como diz meu amigo Felipe Neto, vai que nos conhecemos de outra vida, Rsrs...

— Você acredita nessas coisas? - perguntou Ana.

— Não tenho razão para não acreditar - respondi.

Bruno chegou já eufórico. Que figura!

— Cheguei!! Aqui o terno, o café e o policial. Este serve?”, perguntou.

— Eu esperava alguém maior, forte, alto, mais bonitão, mas aqui não é o CSI, né?

— Eu tava me referindo ao terno, Ysa!!!!

— Ah, tá, desculpe - disse sorrindo. - Sim, o terno está perfeito!

Vesti e disse:

— Olha aqui, ficou ótimo! Obrigada, pessoas! Agora vamos trabalhar, vocês saem. Bruno, por favor deixa seu celular gravando em um ângulo de 90º.

—Por que? - Ele quis logo saber.

— Depois eu explico.

— Onde?” - Perguntou ele empolgado.

Ana perguntou, apreensiva:

—Ysa, você sabe o que está fazendo, né? As pessoas não podem desconfiar, ou vamos perder uma pista preciosa, fora que elas não podem ser gravadas, não é legal.

—Ana, meu anjo, deixa comigo, eu sei de tudo isso. Sei o que estou fazendo, ninguém vai perceber, nem mesmo vocês.

— Como assim?

Expliquei o meu plano:

— Você vai chamar os dois e dizer que sou da polícia. Não precisa falar de qual área. Primeiro vou observar se eles sabem os direitos deles. Se souberem, eu vou usar outra estratégia, se não, continuo o plano, ok? Podem sair e ficar do outro lado assistindo pelo meu celular, aqui está, eu conectei os dois celulares, tá gravando tudo ao vivo e a cores. No final, por favor Ana, é só clicar em salvar.

— Meu deus Ana, ela trabalha pra polícia?

— Não, né Bruno, ela tá fingindo!

— Mas ela tá fingindo bem demais pro meu gosto. Ana, se ela conseguir o que a gente tá tentando a 2 meses eu vou ter certeza que ela não é humana, kkkk.

— Liga não, Ysa.

— Imagina, Ana, estou acostumada.

—Vamos lá - disse Ana, e me perguntou: - Quer se preparar?

—Já nasci preparada, - respondi sorrindo.

— Nossa, Você arrasa, boa sorte! - disse se abanando com as mãos -e não esquece... - Ana respirou fundo e interrompeu a fala. Ela estava mesmo nervosa.

Olhei dentro dos olhos dela, segurei suas mãos e disse:

—Ana, olha pra mim. Não, assim não, olha dentro dos meus olhos. Pode ir, fica tranquila, vai dar tudo certo.

— Ok, eu tô confiando em você.

— E não vai se decepcionar.