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O Manual do BIG Brother Brasil


Para fazer qualquer leitura você precisa enxergar além. Então, parem de sofrer antecipadamente e enxerguem a verdade por trás das aparências. Parem de dar show! Como alguém que você diz conhecer tanto pode te convencer ser outra pessoa? A dinâmica do programa é muito bem estudada, roteirizada, e é sim capaz de promover um vilão a herói do dia pra noite, ou de transformar o mocinho em vilão com a mesma velocidade, e pode ter certeza que se eles quiserem transformar os vilões em mocinhos, sim, eles conseguem.

Eles estão jogando entre si ou com o público? Quem está no grande tabuleiro?

A direção move as peças e eles jogam, uns mais experientes, outro menos ... O BBB tá longe de ser referência de entretenimento, mas sem dúvida é uma porta aberta para uma boa auto análise daquilo que enxergamos no outro, cobramos do outro, esperamos do outro, mas nunca se quer olhamos pra nós mesmos.

Falar que não faria é fácil, eu quero ver você estar inserido na situação.

As abordagens são reais e a reflexão que fica é aquela que nos mostra o espelho. Por que nos identificamos tanto? Porque existem situações conflituosas que passamos no dia a dia, a trama é justamente conseguir a empatia do público, a identificação ... O BBB não é o livro sobre cultura, mas também não é a alienação que muitos dizem. Quem enxerga futilidade não vê a dinâmica do espelhamento. Podemos refletir sobre várias narrativas se deixarmos de lado o olhar superficial. Podemos refletir sobre nossa vida em sociedade e a partir disso podemos mudar a nossa visão em relação a nossa interação social e como ela interfere em nosso dia a dia. Por isso eu acredito que o BBB é sim um aprendizado e não deixa de ser um momento para o nosso próprio autoconhecimento.

Treino é treino, jogo é jogo mas nem todos sabem jogar. O

Big Brother vai além do jogo, mas as pessoas insistem em enxergar apenas o jogo fora do todo, e na vida não temos como separar a hora da história e das nossas ações. Então o jogo é no agora, com conflitos que todos tem, com os defeitos e ambições comuns que se ampliam nas câmeras. São pessoas como nós passando dos limites ou sendo pressionadas além do limite. Você consegue aguentar pressões, manipulações e conviver com pessoas diferentes sem ter conflito? A forma como você trataria e julgaria aqui fora essas pessoas tem a mesmo empatia que você julgaria os seus próprios conflitos pessoais, do seu filho, ou do seu irmão? Será que você tomaria decisões iguais ou diferentes?

Você jogaria ou você viveria? Essa é a questão.

Muitas outras reflexões sobre limites e sobre respeito podem ser pauta. Conviver não é fácil, mas é necessário, e conviver requer mais que idade, requer maturidade emocional. Até que ponto o que dizem ou o que falam de você te desestabiliza e mexe com sua estrutura? Enquanto estamos assistindo como espectadores apontando o erro do outro, existem três dedos apontados para nós para que possamos olhar com mais cuidado. Um programa que antes era futilidade e entretenimento hoje ganha a minha total admiração. A crítica não é sobre futilidade, mas sobre a normalização de algo que não deve e não pode ser normalizado. Virou festa agora cancelar os outros por qualquer motivo que você julga errado. O certo e o errado não é você quem decide, virou moda agora julgar pelo que ouvem ou falam sem uma pesquisa prévia. Virou rotina agressão verbal, falta de respeito, omissão. Virou rotina e normal o abuso psicológico e agressão física, o preconceito, a exclusão, a falta de empatia e o ataque em massa e a reverberação do ódio nas redes sociais ... tudo isso, além de antiético é crime.

Existem centenas de justiceiros sem saber ler o manual do que é justiça.

O BBB está claramente levantando pautas sobre homofobia, problemas psicológicos, depressão, linguagem não verbal, racismo, violência, construção social, família ... e as pessoa estão fazendo parte de uma cegueira coletiva tão grande que se deixam levar pelo ódio e não enxergam o que há por trás das falas de cada um ali... estão representando, ao mesmo tempo educando sobre temas sociais extremamente necessários. O BBB desse ano realmente superou todas as minhas expectativas e não deixa de ser uma boa reflexão sobre a importância dos nossos valores, sobre a realidade distorcida que enxergamos totalmente fora de contexto.

Gente, deixem de loucura, ninguém coloca a carreira pra jogo se não tiver uma motivação bem maior por trás.

E essa motivação não é dinheiro! Para assistir um programa como esse você precisa primeiro sair de si e se observar, observar a questã fora do emocional. Se você tiver alguém fora ou dentro da casa que prenda seu emocional, vais ser colocado à prova aquilo que você realmente valoriza, o jogo pelo jogo, onde o vencedor sai com 1 milhão de reais, ou o jogo da vida onde você coloca seus valores acima de qualquer dinheiro.

Tem coisas que o dinheiro não compra. Esse é o verdadeiro jogo, o campeão não é quem leva o prêmio, mas quem joga com o coração.

E se você não tiver focado em seus valores e em ser você mesmo, o prêmio não vale a pena. Quando você não joga limpo de acordo com sua essência e aquilo que você acredita, você se perde dentro do jogo, e as pessoas, por não conseguirem te sentir se perdem do lado de fora, e nessa dualidade as pessoas não conseguem separar o que é ficção do que é realidade. De fato, o BBB tem sua parcela de realidade, mas por outro lado tem sua parcela surreal de conflitos que estão sim sendo potencializados para mexer com nossa idealização de normalidade e desconstruir aquilo que consideramos aceitável. Claro que existe um pouco de manipulação, tanto da edição quanto dos participantes, mas tá sendo necessário para que a cegueira caia por terra. Até onde você conhece seu ídolo? Até que ponto você pode julgar alguém? Até que ponto você é diferente? Você realmente conhece alguém a ponto de enxergar o que são erros, defeitos, e manipulação? Até que ponto você conhece alguém?

É um jogo sim, mas aqui fora as pessoas ficam tentando ler os participantes, quando na verdade tem que ler a direção e interpretar o jogo.

E lá dentro eles jogam uns com os outros, mas o verdadeiro jogo esse ano é aqui fora, as peças somos nós, espectadores. O público está caindo na dinâmica de se deixar levar pelo ódio coletivo e nesse momento eles perdem a oportunidade de analisar o jogo como um todo, dentro da realidade. Todos nós atuamos em algum determinado momento de nossas vidas, todos nós estamos apontando e condenando aquilo que julgamos neles. Nem todos estão dispostos a ouvir o outro lado, nem todos sabem discordar sem odiar, nem todos sabem separar a aparência da essência. Vivemos o caos da cegueira coletiva.

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Por Ysa Flor

06/02/2021

BBB21




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